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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Mas...

Era noite de natal. Fogos de artifícios amedrontavam os cães, e faziam a alegria das crianças mais aventuradas. Papeis picotados enfeitavam as ruas, numa porção tão grande de pedacinhos prateados que mal se via o chão ali embaixo. Todos estavam alegres, e algumas pessoas sorriam tão forte que dava pra contar quantos dentes tinham na boca. Todos presenciavam aquela felicidade inevitável que invadia a todos na noite de natal. Todos, é claro, a não ser Anne. Ela estava sentada no meio fio da calçada, descalça, e com uma taça de coca-cola na mão. Coca-cola! Pelo ponto de vista de sua mãe, Anne não tinha auto-controle suficiente para se submeter ao álcool da champagne. Ah, qual é! Ela já tinha 15 anos, já podia ter filho, estava no segundo grau, sabia abrir uma lata de leite condensado, já tinha lido Dom Casmurro, e sabia muito bem obrigada que um pouquinho de champagne nas horas de stress não faziam mal nenhum! Do lado de fora da casa, ela mal podia ouvir o que acontecia lá dentro. Com certeza estavam todos ansiosos para a contagem regressiva. Agradeceu mentalmente por esses minutos de paz que encontrou em meio a tantos gritos previsíveis numa noite de família reunida. Olho para o celular e releu a mensagem pela sétima vez em 4 minutos: “Anne, não me espere hoje. Vou na casa da Vicky, e talvez me atrase. Me desculpe, bom natal”. Bom natal. Só isso. Bom natal. Ele mandava uma mensagem de 15 palavras dizendo que pela primeira vez em 5 anos eles não iam passar o natal juntos, abraçados, fazendo a contagem regressiva baixinho, e provocando nela aqueles arrepios idiotas, e tudo o que ele diz é: bom natal. E ah, claro, me desculpe. Com a manga da blusa, secou aquela lágrima escura suja de delineador que escorria. Ah, qual é! Então ela estava chorando por causa dele? Seu melhor amigo? Ah, estava. Ela podia enganar a tudo e a todos, mas não podia enganar a si mesmo. Sabia, desde sempre, que o que ela sentia por ele não era só uma amizade. Sabia que odiava a sua namorada Vicky, e que nesse momento era capaz de encher ela de porrada. Como assim, ela rouba seu melhor amigo e fica por isso mesmo? Poxa, não é justo. De dentro da casa, ouvia os gritos começarem : 10 ! 9 ! Então era isso. Seu primeiro natal desde que o conhecera sem ele. Ótimo. Era bem disso que ela precisava. 6 ! 5 ! Uhul. Legal. Estava super feliz. Melhor que isso, estava mega feliz: só faltava sair pulando de alegria. Droga. Droga, droga, droga. Estava chorando de novo! Como assim, só pelo fato dele não estar ali a noite não valia nada? Sim, era assim que ela se sentia. Como se estivesse faltando algo. 3 ! 2 ! Pegou os sapatos e levantou. Tomaria um banho, e esqueceria tudo o que se passara. Ou tentaria. UM! Fogos de artifícios para todos os lados. É, era o natal. ‘hey, feliz natal, pequena.’ Pequena? Mas, como, só quem a chamava de pequena era...
- 'Oh meu Deus! O que você ta fazendo aqui?' Seu coração deu um pulo. Ok, ele estava alguns segundos atrasados, mas quem se importa? Ele estava ali!
- 'Não gostou de me ver? Tá, eu estou alguns segundos atrasado, mas quem se importa? Eu estou aqui!'
Ok, ele e aquela sua mania incrivelmente irritante de dizer em voz alta o que ela pensava. Como ele fazia aquilo? Arg.
- 'Não, não é isso. É só que... e a Vicky?'
- 'Ah, é, eu fui lá.'
- 'Sim, e porque não ficou?'
- 'Anne, eu fui lá terminar com ela.'
Não, espera. Como assim? COMO ASSIM? Isso ta errado, muito errado. A começar que ...
- 'Mas na noite de natal? Cara, você não tem coração? E o espírito natalino? E aquela coisa toda?'
- 'Anne, eu não podia mais esperar. Você não vê? Ah, é tudo tão confuso, não era pra ser assim. Simplesmente não era.'
- 'Tá bom, você pode me explicar? Não estou entendendo.'
Ele ia dizer o que ela achava que iria? Não, não podia ser. Ah meu Deus, ela não agüentaria.
- 'Anne. Presta atenção, que eu acho que só tenho coragem pra dizer uma vez. Eu te amo. Sempre te amei. Faz cinco anos que eu sinto isso. E ah meu Deus, porque eu? Eu podia gostar de qualquer pessoa. Da minha vizinha que é muito gostosa, da menina da minha sala que vive me dando bola e eu nem sei o nome dela, ou talvez sei lá, que tal a Vicky? Mas não. Sabe de quem eu gosto? De você, a minha melhor amiga. E eu só percebi isso hoje, quando eu vi que não dava pra passar um natal sem você. Anne, eu sei que você não sente o mesmo mas...'
Mas o quê? Ah, não saberemos, caros leitores. Pois ele nunca chegou a terminar o que ele ia dizer. Pois Anne fez a coisa mais sensata no momento: o beijou.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

yeah, you've got a friend

Mas... e quando mesmo sem nunca ter visto alguém pessoalmente, você sente uma amizade muito forte por ela? Mesmo sem saber direito como aquela pessoa se parece, mesmo sem nunca ter escutado sua voz, você sabe que a amizade é verdadeira? Assim não conta? Temos que ter visto a pessoa, conversar com ela, ouvir sua voz, para só depois chamar aquilo de amizade? Ah, eu não sei. Lógico que é importante ter amigos ‘reais’. Lógico que é indispensável sair com os amigos, pra falar besteira e se divertir. Mas e quando aquela pessoa que você conheceu na internet se torna uma boa amiga, que se revela ser boa em conselhos e boa em te alegrar? E quanto àquelas pessoas, àquelas meninas que te alegram, falam besteira com você? Aquelas pessoas que se não fosse o gosto em comum, se não fosse a santa internet, e se não fosse é claro, a nossa querida pastora, nunca iríamos saber da existência uma das outras. Ah, nossa amizade cresceu muito rápido? Evoluiu muito? Sim, eu concordo. Mas não é o tempo que diz a intensidade das coisas. Foram vocês, meninas, que conversaram comigo até 4 da manhã, falaram besteira comigo, me incentivaram, me xingaram, cantaram comigo, me apelidaram. Daquele projeto inicial, que nos uniu e uni até hoje, nasceu uma amizade. Nasceram várias histórias. Nasceu uma família. Sei que com vocês, eu posso contar. Sei que vocês vão me animar quando eu estiver triste. Sei que quando eu precisar, vão estar lá pra falar coisas que não fazem o menor sentido. Ah, eu amo vocês. Minhas BBT’s, minhas unicórnias falantes
E já aviso: se mexer com elas eu meto bala loca1loca2

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sentirei falta de TODOS vocês!

Dois de dezembro de 2008. Ah!, eu não sei. Não sei o que foi aquilo. Era muita emoção, muito sentimento, muita lembrança, e isso tudo torna quase impossível de descrever o que eu senti. Sabe, chegar lá em cima da hora e ver todos vocês juntos, de beca, e começar a tirar as fotos, foi tão bom. A partir dali, o sentimento que estava dentro de mim, escondido fazia algumas semanas foi crescendo, querendo sair. A cada foto que tirávamos, cada abraço de nervosismo, cada risada, cada presente que entregávamos, eu sabia – eu tinha certeza – que não ia demorar muito até que aquele sentimento saísse. E foi quando começaram os discursos que ele conseguiu fugir de dentro de mim e sair pelos meus olhos em forma de lágrima. Nós sentados lá, enquanto os nossos professores nos lembravam tudo que vivemos todos esses anos, todas as nossas mancadas, tudo, tudo. E as lágrimas saiam juntas, quentes. E de repente me chamam ao palco pra fazer a homenagem aos professores, mas eu tremia tanto! E eu fui, e depois teve homenagem aos pais, e o texto do orador, que foram tão lindos! Depois era hora dos professores (não qualquer professores – aqueles que se transformaram amigos com o passar do tempo) fazer sua homenagem. E foi quando eles falaram quase às lágrimas, coisas que muito de nós formandos, ouvimos chorando, e relembramos com saudade. A nossa Diretoria particular, nossas meninas super-poderosas, as caras e bocas de alguns, o grande gênio do mundo, tudo. Tudo aquilo que foi dito, foi fazendo com que lágrimas surgissem do rosto de todos. E então era a hora tão esperada! A hora do juramento. Como sempre, tinha que ocorrer fatos diferentes. Caso contrário, não era a minha sala se formando! Algumas faixas caíram, alguns chapeis, alguns diplomas, e pasmem! O nervosismo era tanto que até o ‘Eu juro’ foi feito atrasado, pois fora esquecido. Jogamos o capelo ao ar (igual nos filmes, sabe?) e pronto. Foi aí que quase ninguém se agüentou. Eu via lágrima de todos os lugares! Todos se abraçando, chorando, soluçando. Tinha alguns que simplesmente não falavam nada, só sentiam. Abracei meus amigos, chorei no ombro deles (os molhei, sim) e é verdade, não conseguia formar nenhuma frase acima de ‘ai meu Deus’ em meio a soluços. Abracei quem eu achei que nunca abraçaria, e foi bom. Todos ali estávamos felizes e tristes ao mesmo tempo. Alguns abraços foram de leve, outros demorados e fortes. Tiveram os abraços de desculpa, os de ‘eu te amo’ e os silenciosos, que diziam muita, muita coisa. Eu queria eternizar aquele momento, mas não tinha como. Estava acontecendo, e o máximo que podia fazer era vive-lo. Minha professora falando que tem orgulho dos meus textos, e que às vezes ela pensa que quando tiver uma filha ela quer que seja só um pouquinho como eu, foi inexplicável. Ver as nossas fotos no telão ao som de Bem Vindo ao Clube do dead fish, foi mágico. Dar tchau a todos vocês e falar: ‘Até a festa!’ foi reconfortante. Eu amo muito, muito vocês. E eu sei – eu simplesmente sei – que eu NUNCA vou esquecer vocês. Isso não é um adeus, e sim um ‘até logo’. Meus formandos
Sim, esse texto é muito pessoal.